Casa do Visconde

A História

Texto de: D. Lourenço de Almeida

O Visconde do Alcaide chamava-se Alberto Carlos da Costa Falcão. Nasceu em 1869 e morreu em 1939. Os seus pais eram João Carlos da Costa Falcão e Maria Delfina Salvado Frazão que tiveram dois filhos e uma filha, o mais velho era ele, depois o irmão Augusto e a irmã Maria do Carmo, minha avó. Assim sendo, ele era meu tio avô. Não casou nem teve descendência pelo que os seus bens, entre os quais a casa do Alcaide foram herdados pelo irmão Augusto e pelo meu pai Fernando António de Almeida e Silva Saldanha por ser filho da irmã Maria do Carmo, que já tinha morrido.

Estudou agronomia em Lisboa e pretendendo aperfeiçoar o que aprendera quis fazê-lo na Escola Agrícola de Paris, coisa que os pais acharam muito suspeito, já que Paris nesses tempos era mais conhecida pela sua vida boémia e artística do que pela sua Escola de Agronomia. Mas lá conseguiu a autorização paternal com uma condição: levar uma carta da mãe dirigida ao Cônsul de Portugal em Paris na qual a preocupada e desconfiada mãe pedia que andasse de o olho no rapaz e o tivesse com rédea curta. Acontece que o Cônsul era, nada menos que Eça de Queiroz, um dos mais celebrados escritores da língua portuguesa, tanto em Portugal como na América Latina, em especial no Brasil, mas não só.

Eça de Queiroz simpatizou com o estudante e foi sensível à preocupação da mãe e de tal forma, o jovem passou a ser visita semanal da sua casa onde almoçava todas as quintas-feiras. Tinha muito interesse por fotografia pelo que retratou vários comensais desses almoços, entre os quais, claro, os anfitriões Eça de Queiroz e a sua esposa.
Revelava as fotografias na sua casa, onde montou um pequeno estúdio e sala escura para tal.

Outra das suas paixões foram as viagens, tendo viajado por toda a Europa. Para chegar a França, Itália, Rússia ou qualquer outro país não vinha a Lisboa, apanhava o comboio no apeadeiro do Alcaide e pela linha da Beira-Baixa seguia até à Guarda onde apanhava um comboio famoso nessa época e que se chamava Sud-Express, que ligava Lisboa a Paris. E de Paris ele seguia para qualquer outro país da Europa. Há muitos anos encontrei um bilhete passado pelo chefe da estação do Alcaide que, justamente, correspondia a uma viagem do Alcaide a Paris. Infelizmente perdi-o…

Era muito afeiçoada à irmã, a minha avó. De todas as cidades que visitava, escrevia-lhe e enviava-lhe um postal ilustrado com uma fotografia dessa cidade.

Casa do Visconde

Quanto à antiguidade da casa o que sei foi-me dito por um primo que andou a vasculhar papéis antigos e verificou que um antepassado nosso tinha feito obras na casa no final do século XVIII. Ora se ele fazia obras era porque já existia uma casa, mas não tenho quaisquer elementos para saber como era então essa casa mas, seguramente, já não seria exatamente igual a como a conhecemos hoje.

A parte mais antiga é a que dá para as traseiras, para uma pequena rua bem estreita, onde as janelas são de “guilhotina”, abrem e fecham na vertical. As grandes obras mais recentes foram feitas em 1869 conforme atesta a inscrição desta data na porta da rua do Espírito Santo, ou seja no ano em que o meu tio-avô Visconde nasceu, pelo que quem as fez terá sido o seu pai, meu bisavô, João Carlos da Costa Falcão.

Este bisavô era muito amigo do Conselheiro João Franco, um político nascido no Alcaide muito importante pois foi primeiro-ministro nomeado pelo rei D. Carlos para tentar pôr ordem no país que atravessava um período muito agitado. Na rua que vai da Praça para a Igreja está a casa que era dele e hoje é dos descendentes, os Mello Franco.

A fachada das duas casas são muito parecidas e a data inscrita sobre a porta dessa casa é um ou dois anos anterior à inscrita na sua casa, 1869.
A semelhança das fachadas e das janelas “neo-góticas”revela duas coisas: uma é que a semelhança não pode ser apenas coincidência mas sim derivada da amizade do Conselheiro João Franco e do meu bisavô, e por isso quem fez o projecto terá sido o mesmo arquitecto e o construtor também. As janelas “neogóticas” devem o seu estilo ao facto de que Portugal, nessa altura, tinha a França e mais precisamente Paris como fonte de inspiração para muita coisa e, talvez o meu bisavô tenha visto um desenho de uma casa com janelas dessas num jornal francês dessa época chamado "Illustracion", mas isto são meras conjecturas minhas.

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